Apesar de estar sediado em terras barrigas-verdes, O Cancheiro não nega suas origens e, na primeira oportunidade que aparece, cruza o Rio Mampituba em direção ao sul. Para a estreia nos pampas, fui até o Lami, na região rural de Porto Alegre, acompanhar um amistoso de preparação para as copinhas do segundo semestre, entre os tradicionais Cruzeiro e Pelotas.


Na primeira jornada d’O Cancheiro no Rio Grande do Sul, a programação previa a rodada de abertura da Copa FGF Sub-19, onde eu iria até Viamão acompanhar Tamoio e Novo Horizonte. Porém, as fortes chuvas que caem sobre o estado inteiro adiaram a abertura da copinha para o meio da semana. Com nenhuma opção na Região Metropolitana, já cogitava ir a Pelotas ver Brasil e Tupi, pela Série C. Isso até descobrir que o indescritível Parque Lami seria palco desse genial amistoso. Não mais genial que Peñarol x Cruzeiro, em Rivera, que acontecera quatro dias antes e, por pouco, não foi relatado por aqui.

Meu QG no Rio Grande do Sul é São Leopoldo, terra do Índio Capilé Aimoré (fique ligado que ainda essa semana teremos Aimoré por aqui). Ir até o Lami foi uma epopeia tal qual ir para Seara acompanhar o Brusque. Depois de pegar trem e ônibus, além de um bom trecho a pé, consegui uma carona com o multifuncional Luis Alberto Rocha, o Xuxu, preparador de goleiros do Cruzeiro e gandula do Internacional, mas que nesse amistoso atuou improvisado de bandeirinha.

Cheguei com antecedência na remota cancha, onde conheci a primeira torcida mirim do Brasil: Os Estrelinhas. Esperava chegar lá e encontrar nenhum torcedor. Imagina minha surpresa quando vi toda aquela gurizada uniformizada, que viajou de Gravataí até o Lami, pendurada no alambrado colocando suas faixas de apoio ao Estrelado. O projeto, encabeçado por Ricardo Ramos, tem o intuito de integrar crianças e adolescentes de uma comunidade de Gravataí, onde o Cruzeiro mandava seus jogos no Gauchão. Eles acompanham o time por toda a região, levando suas faixas e todo amor genuíno pelo time local. “Qual teu time?”, perguntei para um dos guris, “Cruzeiro!”, respondeu ele de imediato. O mais legal é que o clube dá todo o apoio para essa baita iniciativa.

Foi só rolar a bola que o tempo bonito e propício para fotos se fechou e começou a garoar. Corri para uma casamata ao lado do campo e de lá fiz minhas fotos e acompanhei o primeiro tempo da peleia. E como foi peleada aquela primeira parte do jogo. Já no princípio, depois de umas divididas duras por parte do Pelotas, os jogadores do Cruzeiro não deixaram barato e foram tirar satisfação. O árbitro fez seu papel de mediador e acalmou os ânimos dos jogadores.

O Lobo começou melhor. Com menos de 10 minutos já havia finalizado duas vezes contra a meta do arqueiro Anísio. Aos 15, a bola entrou para a alegria passageira dos visitantes, já que o bandeirinha improvisado Xuxu anulou a jogada, alegando impedimento do centroavante Léo Mineiro. Logo depois, quem marcou foi o Cruzeiro, anulado pelo outro bandeirinha, também membro da comissão técnica do time da casa e improvisado. Antes do intervalo, finalmente tivemos um gol validado pelo curioso trio de arbitragem. Jô aproveitou boa jogada e finalizou cruzado, abrindo o placar da partida.

O ritmo pegado da primeira etapa continuou no restante do jogo. A quantidade de cartões amarelos dava a entender que o jogo já valia três pontos pela Supercopa Gaúcha, que só começa no próximo final de semana e dá vaga para a Série D nacional. O Pelotas abdicou de atacar e tentou segurar o resultado, poupando seus jogadores e fazendo rodízio entre eles. Bom para o time de Porto Alegre/Cachoeirinha/Gravataí/Eldorado do Sul, que queria a vitória para entrar nas competições oficiais com mais confiança. Com 5 minutos, o empate quase veio numa supimpa finalização de bicicleta, do atacante Raul.

O lance mais curioso aconteceu da metade para o fim da segunda etapa. Nenê ia invadindo a área áureo-cerúlea quando foi derrubado por João Paulo. Apesar de ter caído dentro da grande área, a falta foi aconteceu fora. Isso ficou claro para mim, porque estava bem ao lado do lance. Quem também estava em boa posição para determinar se foi pênalti ou não era o Xuxu, o bandeirinha improvisado, que, ao ser consultado pelo árbitro, demonstrou honestidade e afirmou que a falta aconteceu fora da área. Mas sabemos que o senso de justiça do futebol é meio distorcido. O lance gerou o delírio dos companheiros de comissão técnica, principalmente do técnico Zaluar.


A virada veio faltando 10 minutos para o apito final, com dois golaços. Em rebote, depois de uma cobrança de falta, Abu bateu rasteiro, sem chances para o goleiro Júlio Cesar. O guarda-redes pelotense também nada pôde fazer na bonita finalização de Pato, da entrada da área, que encontrou os fundos da goleira, depois de cruzá-la pelo ângulo, já aos 43 minutos.


Para quem esperava bem menos de um simples amistoso, saí de lá com a certeza que a estreia d’O Cancheiro em Porto Alegre foi muito gratificante. Descobri que o time tem uma original torcida mirim, vi bandeirinhas, literalmente, caseiros decidirem a partida e percorri os 70 quilômetros de volta para a casa com várias histórias boas na bagagem, além da certeza que novas virão por esses pagos. Pensando nisso, estarei presente na primeira rodada da Supercopa gaúcha, que começa no próximo final de semana. O Cruzeiro pega o Grêmio em Eldorado do Sul e o Pelotas volta para a Região Metropolitana para enfrentar o Inter, em Alvorada. Um desses jogos, com certeza, dará as caras por aqui.
Até lá e seguimos com novidades por aqui. Aquele abraço!
Mais fotos do amistoso: