Buenas!
Um destino mais do que certo em nossas andanças pela Argentina era a cidade de Pergamino, distante 300 quilômetros da Capital. Para tanto, bolei minha primeira viagem ao interior da província de Buenos Aires com o objetivo de ver a despedida do Douglas Haig com a sua torcida na atual temporada. O embate, válido pela penúltima rodada da segunda fase do Torneo Federal A, teve o Atlético Paraná, da província de Entre Ríos, como oponente.



A gana por conhecer a cidade de 100 mil habitantes começou durante a Copa do Mundo 2014, em Porto Alegre, quando conheci dois hinchas fogoneros, com os quais mantive contato e combinei uma troca de camisetas – Brusque por Douglas Haig. Com o clube passando por uma má fase, a partida contra o Atlético Paraná foi a última oportunidade de ver a equipe in loco no semestre e enfim concretizar o câmbio.

Depois de cinco temporadas na Primera B Nacional – a segundona argentina – e chegar a bater na trave para subir à elite, o Douglas Haig acabou descendendo ao Federal A – a terceira divisão para os times do interior do país – em 2017. Em seu retorno à categoria, novamente o Milan de Pergamino ficou no quase e não conseguiu avançar à segunda fase, restando ao clube disputar uma espécie de repescagem, onde apenas o líder de cada uma das zonas compostas por seis equipes regressaria a disputa pelo acesso – e ainda sob o risco de um novo descenso.

Em meio a todo esse regulamento ao mesmo tempo genial e confuso, o Douglas Haig conseguiu se safar do risco de cair ao Federal B, mas também viu distante a vaga para seguir adiante. Apenas uma goleada sobre o Decano de Paraná e uma conjuntura de resultados milagrosos serviria para o clube.


Enquanto isso, os estrerrianos chegaram à província vizinha em uma situação completamente oposta. Enquanto ocupavam a ponta do grupo, o conjunto de Paraná se via ameaçado pelo descenso, visto que se encontrava a apenas alguns décimos de pontos da zona de rebaixamento na tabela de promedios – a média dos pontos desde a primeira fase.

Regulamentos truchos à parte, Douglas Haig e Atlético Paraná adentraram o gramado do Estádio Miguel Morales cada qual com seu objetivo e protagonizaram um excelente duelo. Foram os paranaenses que começaram mais determinados a balançar as redes. Alexis Ekkert, com cinco minutos, fez fila na sonolenta defesa local e bateu com perigo, por cima. Pouco depois, Stechina mandou na área e o arqueiro Barucco teve que contar com a sorte para não protagonizar um papelão, depois de soltar uma bola aparentemente tranquila e ver ela beijar a trave.

Quase que como empurrado pela forte ventania que dava um tom pitoresco de velho oeste à cidade de Pergamino, o Douglas Haig acordou e reagiu na segunda metade da primeira etapa. Nitidamente atrapalhado pelo empecilho natural, o Gato não conseguiu seguir impondo seu ritmo e viu um Fogonero raçudo, mas pouco criativo, assustar.


O placar seguiu zerado para a segunda etapa. O Atlético, satisfeito com o empate que o livraria do descenso e garantiria a liderança – sim, só na Argentina isso é possível – entrou mais cauteloso e buscando os contra-golpes. Assim, aos 12, Ledesma recebeu sobre a risca central e descolou um belíssimo lançamento de zurda para Maximiliano Osurak, que ganhou na velocidade pela direita e atirou de primeira, no alto do arco de Barucco, para abrir o placar em favor dos visitantes.


Ao som de Llorando Se Fue, tema que muito embalou os boliches e bailões dois lados da fronteira, a hinchada local não desistiu e seguiu apoiando o Douglas. Para não fazer essa desfeita com sua torcida, a equipe, ainda que sem maiores ambições no campeonato, seguiu impondo seu futebol raçudo e, quando já eram decorridos os acréscimos do segundo tempo, chegou ao empate com Guillermo Pereyra, em cobrança de pênalti – o próprio havia sofrido, após tentar invadir a área pela direita e ser calçado.





Justiça feita no placar, todos saíram sorrindo da cancha. O Douglas por ter buscado um suado empate na despedida de um ídolo e o Atlético por ter cumprido à risca seu objetivo de não cair e, como se não bastasse, ainda se classificar para o mata-mata valendo o acesso. Para seguir fazendo história, o Decano agora tem pela frente os cordobeses do Sportivo Belgrano, da cidade de San Francisco. O Douglas Haig, por sua vez, só volta a campo pela Copa Argentina, frente ao Lanús, ainda sem data definida – não se sabe nem se vai ser antes ou depois da Copa.


Dever cumprido de conhecer Pergamino, com direito a torneio e times novos na lista, O Cancheiro retorna a sua rotina na Gran Buenos Aires com as competencias do lado metropolitano do nosso glorioso ascenso. Até a próxima!