Todos os caminhos do futebol catarinense levavam à Costa Verde e Mar na tarde desse último domingo, dia 24. Ao mesmo tempo, Itajaí e Camboriú receberiam os primeiros 90 minutos das semifinais da Segundona. Com a difícil missão de priorizar um dos jogos, O Cancheiro rumou à cidade portuária, onde as duas melhores equipes da competição começariam a duelar por uma vaga na elite: Marcílio Dias e Concórdia.



Mas espera aí, se as duas esquadras chegaram às semis com a melhor campanha, por que apenas um subirá? Essa distorção acabou acontecendo porque o Marinheiro obteve a liderança geral, mas não copou nenhum dos turnos. Hercílio Luz e Concórdia, por sua vez, conquistaram turno e returno, respectivamente, e ganharam o direito de decidir o acesso sob seus domínios.

Regularidade não foi uma marca dessa Série B. Todos os quatro semifinalistas trocaram o comando técnico no decorrer da competição. A sempre duvidosa decisão de cambiar o treinador acabou se mostrando correta para Marinheiro e Galo do Oeste. Ambos foram ligeiros no diagnóstico de seus problemas: Hudson Coutinho ocupou a casamata rubroanil por apenas três rodadas; o Concórdia foi mais rápido ainda e demitiu Gilmar Silva após seu segundo jogo.
Para os cargos, os clubes apostaram no retrospecto recente e contrataram os dois últimos campeões da B. Renê Marques, depois de levantar a taça pelo Almirante Barroso e disputar a Série A – e ainda ter uma rápida passagem pelo Rio Branco, do Acre -, percorreu os cerca de 500 metros que separam as canchas itajaienses e assumiu o Marcílio no segundo turno, chegando invicto ao mata-mata. Campeão pelo Brusque, um ano antes, Mauro Ovelha assumiu a bronca no Concórdia e igualmente fez uma campanha espetacular, com apenas uma derrota – justamente para o Marcílio.


Enquanto um é mais experiente, outro recém está começando sua promissora carreira. Renê compensa a pouco experiência com uma entrega total ao clube. Em todas as coletivas, o ex-goleiro faz questão de supracitar o privilégio de estar à frente de uma equipe como o Marcílio. Assim, o técnico foi aos poucos conquistando a torcida, a princípio com o nariz torcida devido à rivalidade.
Tal empenho culminou no espetáculo promovido pelos adeptos marcilistas na tarde desse domingo. Os torcedores deixaram de lado a fama de corneteiros a abraçaram a equipe com uma calorosa recepção na chegada ao Estádio Dr. Hercílio Luz. A festa prosseguiu nas arquibancadas, com os cerca de 2500 pagantes cantando em alto e bom som que jamais abandonarão o Rubro-Anil.

Cabia aos atletas responder dentro das quatro linhas. Ciente de que dois resultados iguais daria a vaga ao Concórdia, o escrete local tratou de agredir desde os primeiros minutos. Os visitantes, por sua vez, não se apoiaram na vantagem e fizeram frente à pressão do Gigantão das Avenidas, ajudando a protagonizar um começo de jogo alucinante, digno da importância da partida.

Aos 12, Adrian mandou na área, Jefferson Paulista antecipou-se a marcação e desviou e Schwenck, bem ao seu estilo matador, apareceu para cabecear fora do alcance de Zé Carlos: Marcílio 1 a 0. A brava equipe concordiense não se abateu e correu atrás do empate. Dois minutos depois, Wilson Júnior recebeu lançamento, matou de canhota e invadiu a área, mas foi atropelado por Gabriel Vieira; pênalti bem assinalado por Cinésio Mendes Júnior e convertido em gol por Andrei Alba.




Passado os ímpetos iniciais, a primeira etapa seguiu lá e cá, com muita disputa na meia-cancha e as equipes buscando os flancos. Com esquemas parecidos, Marcílio e Concórdia se anularam em campo e o placar seguiu inalterado até o intervalo. Para a segunda etapa, Renê ousou e passou a empregar o 4-1-4-1, o esquema da moda.



O técnico marcilista não esperava, porém, que quem fosse propor o jogo era o Galo. Os dois volantes concordienses ganhavam todas no meio, contribuindo para a avassaladora atuação dos visitantes no começo do segundo tempo. A marcação alta também funcionou e o Concórdia empilhou oportunidades, principalmente através de bolas paradas. A melhor defesa da competição foi posta à prova frente ao poderio ofensivo e aéreo do melhor ataque. Melhor para o paredão rubroanil, que segurou as pontas.

Lá na frente, o Marcílio foi . A torcida, apática até então, voltou a jogar junto e o time foi na pilha. Foi justamente pelo lado que o time chegou à meta adversária. Já eram decorridos quase 40 minutos, quando Jefferson Paulista, em mais uma participação decisiva, cruzou à meia altura e a bola pegou na coxa de Neguete. Do outro lado do campo, fiquei com a impressão de mão. Cinésio, obviamente melhor posicionado, não teve dúvidas e voltou a apontar para a marca da cal. Schwenck foi para a batida e, com toda a calma do mundo, guardou: 2 a 1.

O Concórdia ainda pressionou nos minutos finais, mas a defesa marcilista se fechou ainda mais e evitou um novo empate. O maior susto antes do apito final saiu de uma jogada de Neguete para Marcos Paulo, que chegou fuzilando e Kahn espalmou – ainda teve um novo lance duvidoso protagonizado por Wilson Júnior na área, mas Cinésio Mendes não quis se complicar e deixou o jogo seguir.

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A atuação do juizão da Liga Joinvilense, aliás, não agradou em nada a delegação do Oeste. Além desse lance no final, eles reclamaram outra penalidade na primeira etapa, tão clara quanto a marcada, onde Cinésio não só não marcou o penal como também amarelou Abner por simulação. “É proibido dar duas penalidades à favor do mesmo time”, ironizou um integrante da comissão técnica, em entrevista à Rádio Univali.

Galeria especial: confira as imagens da festa marcilista
Apesar de toda a emoção e euforia que se alastrou pelo Gigantão e ecoou pelas ruas de Itajaí, nada está decidido. Pelo contrário. Uma simples vitória, seja lá por qual placar, dá o acesso e a vaga à final para o Concórdia. Para o Marcílio, basta repetir a primeira fase, quando empatou em 0 a 0 no Oeste, depois de ganhar pelos mesmo 2 a 1 em casa.
A logística complicada deverá impedir o blog de conferir os 90 minutos restantes desse embate. O que não quer dizer que não relataremos nenhum acesso por aqui. No próximo domingo, o destino é o Sul do Estado, onde o Hercílio Luz receberá o Camboriú com uma vantagem maior ainda: pode até perder por um gol de saldo que retorna à elite depois de décadas. Promessa de mais uma festa sensacional nessa Segundona.
Voltaremos!