Buenas!
Existe competição mais genuinamente bagual que o Gauchão de Várzea? O torneio organizado pela Fundação de Esportes e Lazer do Rio Grande do Sul, chegou a sua quarta edição envolvendo 55 municípios de todo o estado. Os representantes de cada cidade foram divididos em 29 microrregiões. Pelo Vale do Sinos, na primeira fase, o Alambique Leopoldense eliminou a Associação Portão e o Papagaio de Nova Hartz nem teve o trabalho de bater o representante de Brochier, vencendo por W.O. As duas equipes voltaram aos gramados no último domingo (4), no campo do Nacional de São Leopoldo, para ver quem representaria o Vale na fase regional – ao lado do Balança Rede de Dois Irmãos, vencedor do confronto contra o Juvenil de Feliz nos pênaltis.



Apesar de dar como certa minha presença na final do Municipal de Florianópolis (ocorrida nesse sábado, após três adiamentos) acabei tendo que voltar a minha terra natal, de forma urgente. Os ventos que me levaram de volta aos pampas não foram nada positivos, mas dizem que é em meio a tragédias pessoais que devemos buscar forças, sabe-se lá de onde, para continuar – e eu tenho plena certeza que a pessoa que me criou, aquela que eu mais amava, gostaria que eu seguisse em frente, na lida. Dessa forma, unindo o “trabalho” com o prazer de fazer o que eu gosto, segurei o tranco e fui no aguante até o bairro São Miguel acompanhar o tradicional Alambique receber a equipe de Nova Hartz.
E como foi confortante chegar na cancha da rua Jacy Porto e vê-la tomada por torcedores do time da Baixada, mostrando que o verdadeiro futebol se encontra ali, nessas peleias não-profissionais. É assim em Florianópolis, onde me acostumei a estar presente, ou mesmo em São Leopoldo, com seus inúmeros campos de várzea espalhados pela cidade, dos quais tenho vagas lembranças de acompanhar partidas quando ainda era guri pequeno. O jogo não foi disputado no campo do Alambique, localizado na Vila Paim (onde estive esse ano, na partida entre Novo Horizonte e Estância Velha), devido à falta de arquibancada. De fato, era um item indispensável para a torcida da Baixada, visto que o concretão do estádio do Nacional estava quase todo ocupado.


Apesar de ter crescido muito próximo do clube e sempre ter escutado histórias sensacionais vindas lá da Baixada, nunca havia visto a equipe in loco, então não preciso nem dizer que aproveitei a oportunidade, naquele domingão frio e ensolarado, para espairecer um pouco. Além disso, o jogo era válido pela competição mais genial da qual tenho conhecimento: o Gauchão da Várzea – a denominação oficial é assim mesmo. Talvez pelas dificuldades que o estado vem ultrapassando, que afetaram diretamente a FUNDERGS, o campeonato não teve as mesmas 219 equipes da edição de 2013, quando tinha o apoio da cerveja Polar, mas “apenas” 59. O que já o torna muito maior e mais disputado do que o Campeonato Gaúcho de Amadores da FGF, que em 2014 teve apenas 4 equipes e em 2015 não há nem sinal de que haja a disputa.


Mas, enfim, vamos ao que realmente importa: o relato da peronha rolando pelo histórico relvado do Nacional. Os primeiros 15 minutos foram bem, quase que literalmente, varzeanos mesmo. Na melhor chance, Julio Cesar, da esquadra de Nova Hartz, acertou a copa de uma pinheira (?) localizada atrás da goleira defendida por Alexandre. Aos 16, foi a vez do Papagaio chegar mais perto do gol, em falta bem cobrada pelo lateral Lucas. No minuto seguinte, o Alambique respondeu com um belo contra-ataque puxado por Rudinei, que tocou para Bruno Coelho chegar chutando e Joceir, por questão de centímetros, não alcançar a bola. Depois disso, o jogo começou a ficar bom e, em respeito às tradições locais, começaram a se suceder as primeiras cenas um tanto quanto lamentáveis da tarde.

Com o jogo mais aberto, os representantes de São Leopoldo se aventuraram com mais eficácia em direção à meta adversária. Foi aí que o Alambique começou a efetivar sua enorme maestria nas cobranças de tiro de canto. O primeiro gol foi assim: cobrança de escanteio de Wagner, saída desastrada do arqueiro Maicon e gol de Alan Machado, explodindo a festa entre a torcida composta por membros da comunidade e da Escola de Samba do Alambique. O autor da cobrança, corneteado pelo banco de reservas de Nova Hartz até então, passou correndo pelos adversários, provocando: “pega aí, pô!”. O jogo estava começando a ficar animado. Ainda antes do intervalo, o centro-avante Joceir pintou na cara do goleiro, mas mandou o segundo gol para a linha de fundo.

Os ânimos inflamados perduraram para a segunda etapa, de modo que, já aos 2 minutos, o zagueiro leopoldense Wagner Silveira recebeu a tarjeta avermelhada após levantar um jogador adversário de forma desnecessária, em lance sem bola e longe da área. Dois minutos depois, o juizão Marco Magalhães ignorou um carrinho por trás de um atacante do Alambique que sairia na cara do gol, em lance claro de vermelho. Mesmo assim, o time de São Leopoldo não se abateu e foi atrás do segundo na sua jogada mais perigosa: o escanteio. Novamente, Wagner bateu e, dessa vez, quem completou de forma certeira para o gol foi Tiago Bueno. 2 a 0 em tiros de cantos bem sucedidos.

Com o placar favorável, o Alambique só tratou de segurar o resultado e catimbar a partida. Aos 20, o habilidoso e marrento Wagner aplicou dois maravilhosos lençóis em Jardel, tirando ele para bailar. O atleta novahartense não gostou nada e calçou de supetão o adversário, pelas costas, o que lhe garantiu um convite a sair do campo de jogo, deixando a peleia com 10 jogadores de cada lado.


Um Papagaio acuado e sem forças e um Alambique louco para golear e fazer a alegria da sua baita torcida fizeram da partida, daquele momento em diante, um show de chances perdidas pelos mandantes. A mais clara e bizarra de todas aconteceu aos 27, quando Tiago Bueno ficou cara a cara com o goleiro, com a pelota plenamente dominada e, sabe-se lá como, conseguiu isolá-la, mandando longe a chance de marcar seu segundo tento, o terceiro de seu equipe. Antes disso, ele já havia perdido outra oportunidade, mas chutou de bico, sem direcionar a bola para a goleira. Quando ia para o ataque, o Papagaio não tinha forças para voltar e deixava a defesa aberta para o Alambique marcar, mas os atacantes falhavam na hora H, deixando o resultado inalterado até o apito final.

Como o Gauchão vem sendo disputado em mata-matas de apenas uma partida nessa fase microrregional, o Alambique já está garantido na próxima fase, que reunirá 27 equipes (23 das microrregiões que tiveram seletivas, mais os quatro melhores do ano passado: Canoas, Uruguaiana, Veranópolis e Panambi) e será disputada em nove grupos com três municípios em cada. Devido à BOTINA atirada em campo pela torcida local, o Alambique poderá sofrer alguma punição e não deverá ter partidas da competição em casa, na próxima fase. Entretanto, a apaixonada torcida, assim como fez em Portão, quando era maioria, deverá continuar seguindo o time estado afora, em busca dessa conquista inédita.


Yo, de volta a Santa e nem tão bela Catarina, sigo acompanhando a competição, na torcida pelo time da minha cidade – sim, sou clubista. Quem sabe, em uma oportunidade não tão traumática, eu volte ao Rio Grande do Sul e relate mais uma peleja do Gauchão de Várzea. Por enquanto, me despeço por aqui, sem ousar prever nada para o futuro, pois, além de sempre errar, o tal do destino adora brincar com as nossas emoções. O jeito é ser guapo e pelear, até porque não podemos se entregar pros home, mas de jeito nenhum.
Amigo e companheiro, aquele abraço!
Muito Boa reportagem rica em detalhes! Parabéns
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