3 de maio de 2015. Joinville e Figueirense fazem a final da elite do Campeonato Catarinense, sagrando o time do Norte, depois de dois monótonos 0 a 0, como campeão em campo. Seis meses e doze dias depois e longe de todos os holofotes, Curitibanos e Maga, as duas piores equipes da mais baixa divisão profissional de Santa Catarina, entram em campo para decidir o “campeão catarinense ao contrário” de 2015.


Coincidentemente, ambos chegaram à penúltima rodada da Série C – última para o Curitibanos – com a mesma pontuação: nenhum ponto no returno e apenas quatro durante todo o campeonato – um empate entre si e três pontos contra o desistente Caçador. Nem a equipe do meio-oeste catarinense, que abandonou o campeonato na quinta rodada, foi tão mal, obtendo seis pontos em apenas quatro jogos. Dessa forma, quem saísse derrotado na tarde desse domingo, fecharia a temporada como pior equipe de Santa Catarina, “feito” que o Maga conquistou em cinco dos seis anos que jogou.

“Mas pera aí, Cancheiro, como tu atribui o título de pior equipe de Santa Catarina para um time profissional, mesmo com tantos amadores no estado?”. Pois bem, vamos a um exemplo, que envolve uma das duas equipes: no primeiro semestre, o Curitibanos, em parceria com a prefeitura de Ouro Verde, disputou a Fase Oeste do Estadual de Amadores e, pasmem, conseguiu perder todas as suas oito partidas. Foram 11 gols marcados e 28 sofridos, para equipes como Guarany de Xaxim, Xanxerê, Independente de São Domingos e Abelardense. Entre as competições classificatórias para a fase final do Estadual de Amadores, em São Miguel do Oeste, o Curitibanos teve a pior campanha (outros times também não chegaram a pontuar, mas nenhum disputou tantas partidas).
Já o Maga dispensa apresentações. O time, fundado em Indaial, ficou famoso pelas suas desastradas campanhas na terceira divisão de Santa Catarina. Mesmo com a fama de Íbis catarinense, o Maga resistiu às piadas e nunca desistiu, sendo a equipe há mais tempo na fila da Série C. Desde 2009, o time conseguiu apenas duas vitórias em campo – outras três foram por W.O. Até a metade dessa Série C, o time jogava com o elenco do Piratas do Porto, uma genial e excêntrica equipe de Navegantes. Mas, como quase tudo em Santa Catarina, o projeto não deu certo e, atualmente, o time é tocado por dirigentes do Jaraguá, sendo representado por jogadores da base do Leão.
Outra coincidência bizarra entre os dois clubes é que, literalmente, eles representam todo o estado de Santa Catarina. O Maga começou em Indaial e já teve passagens por Rodeio, Pomerode, Navegantes e atualmente é sediado em Jaraguá do Sul. O Curitibanos carrega o nome da cidade do Planalto Catarinense, onde foi fundado em 1999, mas só jogou a segunda divisão de 2000 por lá. O time mais cigano de Santa Catarina já rodou por Ouro Verde, Imbituba, Canelinha, Indaial e agora, em parceria com o Grêmio Paulo Lopes, fixou sede na Grande Florianópolis.

Não sei o que levou os dois donos do Curitibanos a aportarem em Paulo Lopes, visto que não há torcida nenhuma na cidade. Só tenho certeza que deu certo até os juvenis do ano passado, quando foram campeões. Depois disso, fizeram um bom começo de Série C esse ano, com quatro pontos nos dois primeiro jogos, e só. A partida contra o Litoral, na qual O Cancheiro esteve presente, foi uma das primeiras da descida de ladeira do time. Aquele jogo, aliás, rendeu uma baita bronca dos jogadores da equipe com este que vos escreve. Os caras simplesmente se recusaram a fazer foto posada antes da partida contra o Maga, alegando que O Cancheiro “pegou pesado” com a equipe – os caras tomaram seis, jogando de forma bizarra, e querem que eu elogie?

Pois bem, fiz a foto do Maga com seu uniforme novo e esperei a bola rolar, já que, mais uma vez, a ambulância se atrasou – era a única da cidade toda. Depois de 15 minutos de espera, a bola rolou. Ao contrário das duas partidas que assisti em Paulo Lopes, dessa vez foi o Curitibanos que começou melhor. O time dominou o meio de campo, mas a falta de qualidade técnica impediu maiores sustos ao goleiro do Maga. Cezinha novamente destoou do resto da equipe e fez um bom primeiro tempo, entregando boas bolas para Rafinha, mas o centro-avante não conseguia finalizar de forma certeira. O Maga até encaixou um contra-ataque, mas o bom goleiro Daniel saiu nos pés de Marcos e abafou.


Entre o final do primeiro tempo e os 25 minutos iniciais do segundo, a bola raramente saía do meio-campo, deixando o jogo monótono e a quase certeza de um zero a zero entre as duas piores equipes – nada além do esperado. Nesse período, contei a história do “famoso” Maga para os policiais, que já me conheciam da passagem do Cancheiro por Garopaba, e que caiam na gargalhada, tanto com os causos que envolviam a equipe, quanto a cada lance bizarro da partida – quase todos.

Esse cenário se manteve até os 37 da segunda etapa, quando o árbitro Gabriel Kretzer marcou pênalti, convertido por Rafinha. Na comemoração, o 9, com muita raiva, saiu mandando alguém “chupar” – vai saber o quê e por quê. Dois minutos depois, Katito avançou pela esquerda e tocou para Rafinha. O centro-avante puxou para fora, limpou e bateu firme, marcando seu segundo gol na partida. Mesmo jogando no Curitibanos, o centro-avante conseguiu, até o momento, ser o terceiro maior artilheiro – um feito notável, diga-se de passagem – com sete dos nove gols que a equipe marcou na competição. Ah, mais uma vez ele mandou “chupar”.


O placar, de certa forma dentro do esperado, se manteve até o final, concretizando a segunda vitória do time de Paulo Lopes. O Curitibanos foi melhor durante quase toda a partida e mereceu o placar. Dessa forma, o clube começou e terminou bem o campeonato, vencendo na estreia e na despedida, mas esqueceu de manter o bom futebol no meio da competição. Segundo um dos sócios do time, a ideia para o próximo ano é voltar para Ouro Verde e disputar as competições amadoras e profissionais por lá, já que estão sendo feitas reformas no estádio e haveria uma boa torcida para apoiar equipe, ao contrário de Paulo Lopes, onde não houve sequer um torcedor contra o Maga.

Ao contrário do Joinville, campeão catarinense da elite, o “título” do Maga não é motivo para nenhuma comemoração. A equipe ainda cumpre tabela na última rodada, contra o Litoral, que briga por uma vaga – o Barra já é campeão, mas a desistência do Juventus de Seara deve abrir mais um lugar na Série B. O futuro do “pior time do mundo” parece incerto. Os donos abandonaram esse ano, então ainda não há previsão de que o time esteja campo em 2016 para alegria dos fãs do futebol alternativo. Pelo menos, garanti um jogo do histórico Maga aqui no blog.
Mais fotos da peleja:
Com essa partida, O Cancheiro se despede do futebol profissional em 2015. Restam algumas competições amadoras e de base. Sábado que vem já tem decisão por aqui. Até lá!