Salve Brusque imortal, é TRI!
Chegamos ao final, de fato, dessa Série B. Nesse domingo, foi disputada a cereja do bolo, a final do campeonato. Brusque e Camboriú entraram no gramado do Augusto Bauer com o sentimento de dever cumprido. Como contado em linhas anteriores, as duas equipes fizeram uma Segundona quase perfeita, com mais altos do que baixos, culminando no justo acesso de ambos (o do Brusque, contra o Juventus de Seara, foi relatado aqui). Entretanto, as duas partidas derradeiras tinham muito valor, afinal era uma taça que estava em disputa.

Nos primeiros 90 minutos, no Robertão, quem saiu vitorioso foi o Brusque, o que garantiu uma larga vantagem para a equipe quadricolor e um sentimento de “já ganhou” entre a torcida. Tal convencimento culminou em uma baita mobilização entre os torcedores quadricolores, rendendo um Augusto Bauer mais do que lotado; as arquibancadas estavam literalmente socadas nesse domingo. Quem também se deslocou rumo ao Gigantinho foi O Cancheiro, acompanhado da semi-brusquense Amanda e do Desprovido de Fama Matheus, além dos grandes amigos anfitriões de sempre: Murilo, Célio e Engel.

Pelo lado laranja, havia um sentimento de revanchismo pela derrota na semana anterior e pelas constantes provocações sofridas. O clima, apesar do acesso garantido, não estava nada amigável, tanto que, já no aquecimento, jogadores do Camboriú, em especial o ídolo Brasão, trocavam farpas com os brusquenses. Algo completamente desnecessário, mas que deixava claro que a taça, que poderia ser a segunda do Cambura ou a terceira do Bruscão, realmente havia virado uma obsessão para as equipes.




O goleador Brasão realmente não estava de brincadeira. Em sua primeira jogada, ele entrou de forma desleal em uma dividida com Flavinho, causando a ira de Cleyton, que prontamente foi com seu dedo em riste tirar satisfações com o camisa 9. Logo formou-se um pequeno entrevero bem próximo à lateral, perto da torcida, que não poupou xingamentos aos adversários (nesse exato momento nos deslocávamos para fora do campo de jogo, de onde fomos convidados a nos retirar, já que quando o dinheiro fala mais alto, quem faz as coisas por amor acaba sempre se ferrando).

Cleyton e Brasão foram amarelados no meio da confusão. Seria o prenúncio de uma final bem ao estilo Augusto Bauer, com cenas lamentáveis à revelia? Minutos depois, provou-se que não seria bem assim. Brasão levou a pior em outra dividida forte, dessa vez com Wanderson, e teve que ser substituído, fato que esfriou consideravelmente a partida. Teria Brasão dado o famoso migué e pipocado? Para a torcida mandante, a resposta dessa pergunta é, sem sombra de dúvidas, afirmativa.

Como percebemos, o princípio da peleia foi feio, com pouco futebol e soltando faíscas, como o próprio Faísca previra que seriam as partidas decisivas, em um trocadilho um tanto quanto original, em uma conversa bem informal lá em Mafra. A partir da saída de Brasão e da entrada de Maranhão no seu lugar, o jogo perdeu um porrada, mas ganhou em futebol. A intensidade ofensiva do Camboriú seguiu, mesmo sem sua referência na área. Em uma cobrança de falta, a bola passou rente à trave e beijou o lado de fora da rede, arrancando suspiros de alívio entre os adeptos locais e reprimidos gritos de gol entre os visitantes. O Brusque também esteve próximo de marcar, quando Eydison, por centímetros, não alcançou uma bola cruzada e mandou para o gol e Eliomar desperdiçou um bom cruzamento do mito João Neto.

Após ficar no quase durante a primeira etapa, Eydison voltou para o segundo tempo para brilhar, para cravar de vez seu nome na história do time quadricolor. Aos 15, após Paulinho dividir com a defesa, a bola encontrou o homem que consertou o meio-de-campo brusquense, Eliomar, que dominou no peito e tocou para Eydison fazer o pivô de forma brilhante, virar e finalizar no ângulo, encobrindo o goleirão Rodrigo Rocha. O gol despertou a torcida, que, devido ao forte calor e à arquibancada superlotada, vinha fazendo uma festa meio tímida. Gritos de “é campeão!” já ecoavam pelo Gigantinho.

Após o primeiro gol, a certeza do tri foi extravasada e tudo virou festa. Mas o incansável Eydison queria mais. O matador do Brusque queria assumir o posto de artilheiro da competição, como fizera no acesso de 2013. Para tanto, aos 27, o camisa 9 recebeu uma bela bola enfiada de Flavinho, puxou para sua perna boa, a canhota, e bateu forte e rasteiro, sem chances para Rodrigo Rocha. Já podia homologar: Brusque tricampeão catarinense da Série B.

Com o 2 a 0, o Brusque só se defendeu e tentava partir em busca do terceiro gol em contra-ataques. Matheus Paraná teve a melhor chance, mas desperdiçou, finalizando rente à trave. O time do Camboriú, já aceitando o vice, nada fez. Enquanto a torcida quadricolor ignorava o forte calor e fazia a festa nas arquibancadas, os visitantes entraram na vibe de sua equipe e já iam se aprontando para deixar o estádio, faltando cerca de 15 minutos para o apito final.

Quando Edmundo Alves do Nascimento deu por encerrada a partida e, consequentemente, uma das melhores edições da Segundona em todos os tempos, tudo parecia estar no seu devido lugar: Brusque de volta à elite e com mais uma taça, a oitava de sua história. O tricampeonato da Segundona foi intensamente comemorado pelos mais de 4 mil torcedores que lotaram o Gigantinho. Não tem calor e desidratação que estrague uma festa como essa.

Depois de uma cansativa espera para adentrar o gramado no pós-jogo, consegui acompanhar a entrega do troféu de vice para o Cambura e a Taça Rubens Facchini (homenagem a um ex-presidente do Brusque, falecido ano passado) ao capitão Rogélio. Logo após, enquanto os jogadores namoravam o troféu, a diretoria do Brusque abusava de discursos políticos extremamente chatos e demagogos, deixando a torcida do lado de fora da festa, a espera do tão aguardado contato com seus ídolos.

Quando, enfim, abriu-se o valioso portal para o sagrado gramado do Augusto Bauer, torcedores e jogadores puderam confraternizar aquele momento único. Adivinha quem foi um dos mais procurados? Sim, João Neto, um dos símbolos da garra e da simplicidade dessa equipe, o papa-títulos do Vale do Itajaí, já que esteve presente em todos os acessos e taça conquistadas pelo Brusque nos últimos seis anos. Depois de cumprimentos e agradecimentos dentro do campo, os jogadores saíram do estádio em carreata no caminhão do Corpo de Bombeiros pelas ruas do centro, desfilando todo o orgulho de um município com seu time de futebol, o maior do Vale. E como é bonito ver uma cidade abraçar seu clube e, com ele, mostrar que o futebol de verdade respira bem longe daquelas enfadonhas arenas.

A oportunidade de dar espaço para time geniais como Camboriú e Brusque tornou esses primeiros meses de Cancheiro muito especiais para mim. A cobertura especial dos marrecos pelo estado de Santa Catarina tomou proporções que eu não esperava. Desde aquela vitória suada na distante Seara, passando pela goleada em Jaraguá do Sul, pelos tropeços em Tubarão e pela batalha de Mafra, estive ao lado do time em suas diversas fases durante o campeonato, vivendo situações que ficarão marcadas para sempre. Tudo isso pelo simples fato de amar o futebol em sua essência, sem qualquer interesse financeiro por trás, e por ter adotado as quatro cores como minhas, desde que comecei a acompanhar o futebol catarinense, mesmo jamais tendo morado em Brusque.
O Quadricolor fica por aqui, voltando apenas em 2016, diretamente de onde jamais deveria ter saído. Mas O Cancheiro não para. Agora que a competição carro-chefe do blog acabou, o foco passa para outros torneios, como o desfecho do amador de Florianópolis, com suas semifinais no próximo final de semana, e a Terceirona, que já está rolando a todo vapor, mas ainda não teve a oportunidade de pintar por aqui.
Até breve!
O Cancheiro acompanhou a entrega da taça e a comemoração brusquense, confira a galeria: