Chapecoense peleia até o final, mas bate na trave e River Plate se classifica em jogo histórico

Qual torcedor da Chapecoense, no ápice de sua imaginação, preveria que seu time, rebaixado à Segundona do Campeonato Catarinense em 2010, bateria de frente com o melhor time da América? E nem demorou muito para acontecer, foram apenas 5 anos entre aquele empate contra o Figueirense, que decretou o rebaixamento, e a memorável noite desta última quarta-feira (vale lembrar que o time não chegou a disputar a segunda divisão catarinense, isso porque o Atlético de Ibirama entrou em licença e cedeu sua vaga na elite).

Barovero; Mercado, Maidana, Balanta, Casco; Kranevitter, Ponzio, Carlos Sánchez e Pisculichi; Driussi e Rodrigo Mora. (Foto: Lucas Gabriel Cardoso)
Barovero; Mercado, Maidana, Balanta, Casco; Kranevitter, Ponzio, Carlos Sánchez e Pisculichi; Driussi e Rodrigo Mora. (Foto: Lucas Gabriel Cardoso)
Danilo; Mateus Caramelo, Willian Thiego, Neto e Dener; Gil, Cleber Santana, Nenén e Ananias; Maranhão e Bruno Rangel. (Foto: Lucas Gabriel Cardoso)
Danilo; Mateus Caramelo, Willian Thiego, Neto e Dener; Gil, Cleber Santana, Nenén e Ananias; Maranhão e Bruno Rangel. (Foto: Lucas Gabriel Cardoso)

Naquele mesmo ano, com um time reformulado, a Chape bateu na trave pelo acesso à Série B do Brasileirão. Feito esse que veio apenas dois anos depois. No primeiro ano na segunda divisão, o Verdão já alcançava o acesso à elite nacional. Entre os grandes, o time aprontou algumas, que o digam Internacional, Palmeiras e Grêmio. Mas tudo isso ainda era um prólogo de onde essa ascensão meteórica chegaria.

Caminho da cancha. (Foto: Lucas Gabriel Cardoso)
Caminho da cancha. (Foto: Lucas Gabriel Cardoso)

A bela campanha em seu primeiro ano na Série A do Brasileirão rendeu à Chape uma vaguinha na Copa Sul-Americana. Sem pretensão alguma e priorizando se manter na elite nacional, o time entrou de sangue frio na competição internacional, como se ela fosse um bônus por todo o trabalho desenvolvido. Depois de uma classificação tranquila frente à Ponte Preta e uma heroica vitória nos pênaltis contra o Libertad, a Chapecoense já se encontrava entre os 8 melhores da competição internacional – sua primeira na história. Agora, o clube que, até poucos anos atrás, tinha seus maiores confrontos contra equipes como Atlético de Ibirama e Imbituba, se via diante de um gigante internacional, do atual campeão da Copa Libertadores da América e da própria Copa Sul-Americana, os millonarios do River Plate.

O primeiro jogo, no Monumental de Núñez, já demonstrou que a Chape tinha condições de chegar às semifinais, ou, ao menos, impor dificuldades ao poderoso adversário. Nem os dois gols de Sánchez e o de Pisculichi desanimaram a torcida do Verdão do Oeste. O histórico gol de Maranhão, lá na Argentina, contribuiu para manter acesa a esperança da classificação. O time que, não muito tempo atrás, havia feito cinco no Palmeiras e no Internacional, precisava de “apenas” dois gols para marcar de vez seu nome na história do futebol do continente.

A torcida, aliás, foi o grande diferencial no jogo de volta. Não tem jogador que não fique disposto com uma recepção como a que ocorreu no jogo dessa quarta-feira, na tão esperada partida de volta. Com fogos e cânticos de incentivo, a delegação percorreu um corredor de torcedores entre o ônibus e o acesso ao estádio. Ali já se percebia a grande vontade dos jogadores. Também pudera, iam entrar em campo, com as arquibancadas lotadas, para enfrentar o melhor time desse lado do Atlântico.

Qual jogador não fica extasiado com uma recepção dessas:

Depois de me posicionar atrás de uma placa de publicidade, confesso que senti uma pitada de emoção, afinal estavam na minha frente jogadores que tenho uma baita admiração, já que sou um adepto do futebol sudaca. Entretanto, não tem millonario nenhum que mude a empolgação que eu sentia pela remota possibilidade de ver um time catarinense bater o River.

Com a pelota rolando, o clima do estádio era surreal. Mesmo tendo assistido partidas por todo o estado, inclusive jogos importantes na casa dos cinco considerados grandes, nunca vi uma atmosfera semelhante em Santa Catarina. Deixando um pouco de lado o clima de tensão, a torcida jogou junto com seus 11 guerreiros. Cada dividida era comemorada como um gol. Os gritos de reprovação ecoavam pelo Índio Condá a cada marcação contrária do árbitro. E o River Plate, por incrível que pareça, sentiu a pressão. Aliado a isso, o time catarinense soube se impor desde o começo, contribuindo para uma péssima atuação dos argentinos.

A já incendiada Arena Condá explodiu no gol de Bruno Rangel. Faltava mais um golzinho para fazer história. O primeiro tempo, amplamente dominado pela Chapecoense, teve um desfecho que não era esperado. Próximo do intervalo, o River finalmente conseguiu emplacar algumas jogadas com seu ataque que, até então, não havia mostrado a que veio. De forma eficiente, eles chegaram ao empate no último lance do primeiro tempo. Carlos Sánchez, o craque que estava meio sumido, marcou mais um, sendo o grande algoz da Chapecoense, com três gols em duas partidas. Com o gol, a hinchada do River, meio tímida até então, resolveu acordar.

Se antes dois gols classificavam a Chape, agora levariam à disputa de pênaltis. O Verdão não se abateu e voltou para a segunda etapa com o mesmo empenho que havia demonstrado na primeira. Bruno Rangel, idolatrado pelos locais e completando 100 partidas com a camisa da Chape, foi oportunista e marcou o segundo, após cruzamento escorado por Thiego. Depois de ser o grande destaque na Série B de 2013, agora o atacante marcava também seu nome nessa passagem internacional do clube.

O feito de estar vencendo o River Plate, atual campeão de tudo na América do Sul, por si só já era histórico e digno de festa. Mas o clube não sabe parar de crescer e queria mais. Um mísero gol levaria a partida para os pênaltis. Foram várias as chances. Neto teve a melhor de todas, após Barovero espalmar a bola nos seus pés, mas o zagueirão isolou. O goleiro do River ainda operou um milagre, após Bruno Rangel cabecear livre. Mas a grande prova de que não era para sair o gol aconteceu no final, quando Tiago Luís também cabeceou, sem nenhuma marcação da perdida defesa do River, mas acertou o travessão.

A classificação não veio, mas não há nada que apague a atuação épica do time catarinense frente ao argentino. E o placar eletrônico demonstrava isso: Chapecoense 2×1 River Plate, em mais uma prova absoluta do quanto o futebol é apaixonante e imprevisível. Na saída dos jogadores, os cerca de 12 mil torcedores presentes, sem exceção, aplaudiram de pé a bravura de seu elenco.

Torcida aplaudiu de pé os guerreiros. (Foto: Lucas Gabriel Cardoso)
Torcida aplaudiu de pé os guerreiros. (Foto: Lucas Gabriel Cardoso)

Fica a história, contada de dentro do campo por este que vos escreve, e que, com certeza, percorrerá gerações de torcedores chapecoenses. Mas vale lembrar que ainda existe a probabilidade de repetir o feito ou alcançar vôos ainda maiores, afinal estamos falando de Chapecoense.

Publicidade

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s